Não é fácil definir o que é o jornalismo. Na sua essência, corresponde, dominantemente, à actividade profissional de divulgação mediada, periódica, organizada e hierarquizada de informações com interesse para o público. No entanto, as novas formas de jornalismo on-line, de jornais a la carte, de televisão interactiva, de participação dos cidadãos na elaboração de notícias, etc. colocam em causa alguns dos pressupostos do jornalismo tradicional.
A noção de hierarquia da informação, nos jornais on-line, talvez seja melhor substituída pela noção de itinerário do utilizador no seu percurso pelas páginas e sites linkados na Internet. A noção de periodicidade, nos jornais on-line, talvez seja melhor substituída pela noção de banco de dados, permanentemente alimentado e permanentemente disponível. A própria noção do que é informação de interesse público é fluida e flexível. Um dos melhores exemplos talvez seja a justificação de uma televisão portuguesa (TVI) para colocar informações sobre o show do Big Brother no telejornal: tratava-se de um programa com muita audiência e, portanto, a informação sobre o que acontecia nesse programa seria de interesse público. De algum modo, em matéria de interesse público, talvez haja poucas diferenças entre a notícia de fait-divers do nascimento de um novo golfinho num oceanário e as notícias sobre o Big Brother [...]
[…] Seja como for, o jornalismo, como ainda hoje o concebemos, é uma poderosa e complexa estratégia de comunicação social. É tão poderoso que se pode equiparar aos poderes Executivo, Legislativo e Judicial, sendo frequentemente apelidado de Quarto Poder. Outros ainda apelidam-no de contrapoder, pois o jornalismo é um contraponto aos restantes poderes. À luz da Teoria Democrática, o jornalismo vigia e controla os outros poderes, baseando-se no princípio da liberdade de expressão, em especial na sua vertente da liberdade de informação (liberdade de informar, informar-se e ser informado). Há, finalmente, autores que defendem que, mais do que um Quarto Poder, o jornalismo é um espaço onde se representam, comunicam e digladiam os restantes poderes, por vezes insidiosamente, funcionando como o "quarto do poder", na feliz expressão de Ricardo Jorge Pinto.
Há várias formas de tipificar o jornalismo. Podemos falar de jornalismo generalista, quando um órgão de informação aborda várias temáticas, ou de jornalismo especializado, quando o órgão se especializa numa temática (economia, desporto, política, ciência, etc.). Podemos falar do jornalismo consoante o medium que lhe serve de veículo: radiojornalismo, telejornalismo, fotojornalismo, ciberjornalismo (ou jornalismo on-line), jornalismo impresso. Podemos, ainda, tipificar o jornalismo em função da forma do discurso: jornalismo descritivo (ou reportativo), jornalismo interpretativo (ou analítico), jornalismo argumentativo (ou opinativo). Podemos ainda falar do jornalismo de acordo com as tácticas de obtenção de informação: jornalismo de investigação, jornalismo reportativo, jornalismo de denúncia, etc. O jornalismo de precisão é uma tendência recente do jornalismo que preconiza a associação entre as metodologias das ciências sociais e humanas com os métodos de trabalho e as linguagens e os discursos típicos do jornalismo [...]
Dentro da perspectiva do jornalismo de precisão, os jornalistas devem descobrir sistematicamente novos temas dignos de tratamento jornalístico. Não se devem limitar a reportar notícias. Não podem limitar-se a registar dados e interpretações de terceiros. Devem encontrar e interpretar dados precisos e factuais, frequentemente resultantes de sondagens, inquéritos, cruzamentos de dados em bases de dados e processamentos estatísticos. Isto implica, obviamente, novas competências e responsabilidades para os jornalistas.
Jorge Pedro Sousa - Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media
0 comentários:
Enviar um comentário