Por outras palavras, se Cabo Verde é tido como um study case, um exemplo do país que deu certo, deve-o em grande parte à aposta acertada na valorização dos nossos recursos humanos. Por outras palavras, se Cabo Verde é o que é deve-o em grande parte também à qualidade dos políticos que teve porque, diga-se também, eles foram também, como nós, frutos desta sociedade que há muito aprendeu que estava na educação e na formação a chave para uma vida melhor para novas gerações então a caminho. E aqui que se me permita apontar o exemplo da avó da nossa Iva Cabral, mãe de Amílcar, nha Iva, mulher simples que fazendo das tripas coração tudo fez, nesta ilha de S.Vicente, para educar o filho Amílcar, esse modelo de homem e politico para a maioria de nós todos.
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Meus caros
Esta nossa ilha, S.Vicente, mais do que nenhuma outra ilha de Cabo Verde, vive o que para muitos parece ser um tempo de desesperança. Com o desemprego em torno dos 20 por cento – e onde há desemprego há pobreza – sendo a maioria dos desempregados jovens, que dizer nesta hora difícil a esta plateia predominantemente jovem sem cair na heresia do optimismo fácil ou barato?
Acreditem: apesar de todas as dificuldades, cada um de vocês está a viver um momento particular da vossa vida, um momento de transição, entre – digamos – , a idade da busca e a idade da razão.
Quem já passou por uma universidade sabe de que falo. E quem, como vós, dá agora os seus primeiros passos começa a pressentir que a universidade é, não poucas vezes, apenas um lugar de busca do conhecimento, mas a antecâmara para um desafio maior que é a sobrevivência e a busca do sucesso no mercado de trabalho.
É preciso que tenhamos em conta, entretanto, que a universidade não nos dá tudo; dá-nos, no máximo, as ferramentas para aquilo que almejamos ser. Somos nós próprios que, movidos pela inquietude, temos de ir à busca das respostas para muitas das nossas dúvidas e angústias. É, pois, este o mundo que ireis enfrentar, primeiro dentro do espaço universitário, onde, em situação de crise tereis o professor para vos coordenar, e depois, na vida real, onde o vosso principal tempo será o conhecimento adquirido.
Por isso, é preciso que abracemos a oportunidade de seguir um curso universitário não como um meio de, meramente adquirir um diploma, não importando a forma como cheguemos a ele.
Para que façamos realmente a diferença, num mercado que começa a mostrar-se saturado em termos de ofertas de licenciados, é preciso que a universidade seja, realmente, um espaço de aprendizagem e descoberta, de modo a que o resultado disso possa ser utilizado para melhorar a nossa realidade social e não só.
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Normalmente, temos a tendência de achar que os jovens não se interessam por uma série de assuntos, que são apáticos... Acusamo-los de desconhecer a história do seu país, de não se interessarem pelos assuntos da sua comunidade, enfim, de não comungarem ou não terem o mesmo entusiasmo das causas que moveram os seus pais.
Nos esquecemos, amiúde, que fomos os jovens de ontem e que os jovens de hoje serão os velhos de amanhã, e nesta ordem de ideias é bem provável os velhos amanhã venham a ter muito que lamentar e reclamar contra os jovens de amanhã.
Nesta espécie de eterno retorno, a roda do tempo a que todos estamos sujeitos, atribuímos ao mesmo tempo aos jovens a capacidade de serem agentes da mudança, talvez porque menos agarrados ao passado e não poucas vezes ao presente, isso leva-os a desafiar o futuro com muito mais facilidade e naturalidade.
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E voltando à situação em que vive São Vicente, é preciso que o vosso saber se traduza, num futuro próximo, em respostas para a solução sustentada dos problemas de uma ilha que já viveu tempos de glória, tanto em matéria de economia, quanto cultural e social, e que hoje parece um tanto desnorteada, frustrada, desanimada… Assim, antes de culparem os outros pelos vossos insucessos, procurem, nas vossas respectivas áreas de aprendizagem, projectos realizáveis quando saírem da universidade, para que sejam patrões de vocês mesmos, e não dependam do emprego público, cada vez mais raro entre nós.
Numa realidade de crise em que o mundo e nós, em particular, precisamos reinventar o desenvolvimento sustentado, todos nós ¬- inclusive vocês jovens - , somos desafiados a dar o melhor de nós próprios, sempre na busca da tal diferença que faz a diferença, permitam-me o pleonasmo. Pois, é nessa diferença que reside – quem sabe – o trunfo de cada um na hora de disputar o seu lugar ao sol.
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E, finalmente, para terminar, como disse no princípio, esta é a minha primeira lição ou aula de sapiência. A haver mais, espero bem que a próxima seja bem mais sapiente do que esta. A todos desejo um bom ano lectivo, cheio de novos conhecimentos e conquistas.
Universidade Lusófona, Mindelo, 16-11-10