A interacção entre os actores que compõe uma sala de aula (Professor/Aluno) é um momento de troca de experiência, momento esse tornado possível pela presença desses elementos. Quando, por exemplo, o Professor é uma presença ausente (figura de estilo), é-lhe difícil essa troca de experiência que irá possibilitar a avaliação do Aluno.
Esta presença reflecte, dá referências; ao Professor dá-se a oportunidade de transmitir valores e saberes, ao Aluno a possibilidade de provar, a si próprio primeiro, e depois aos Outros a apreensão desses valores e saberes. O facto de ter sido negado ao Aluno, de forma contínua, a possibilidade de provar aos Outros essa apreensão, não significa, a priori, que ele não os tenha adquirido.
É necessário ao Professor avaliar o Aluno; mas como avaliar sem terem tido uma comunicação que só a socialização é capaz de garantir? Como quantificar esta avaliação quando não se reproduz nem se recria conhecimento para que o Aluno possa provar, a si próprio e depois aos Outros, a apreensão de valores e saberes? Nestas circunstâncias, a tarefa de avaliar pode tender a dois pólos diametralmente opostos: complexa ou simplista. Um Professor competente e dedicado terá certamente uma tarefa árdua; um preguiçoso terá um trabalho fácil.
Sejamos preguiçosos em tudo, excepto em amar e em beber, excepto em sermos preguiçosos. (Paul Lafarque. O Direito à Preguiça)
A socialização da sala de aula também pode gerar aspectos negativos. A interacção entre os actores pode originar desequilíbrios e/ou constrangimentos que, dependendo do indivíduo, podem ficar interiorizados durante o processo de socialização, podendo ser transpostos de trimestres ou disciplinas anteriores, fazendo com que a avaliação do Professor reflicta mais as suas intenções pessoais ou mesmo frustrações próprias do que exactamente a capacidade do Aluno em relação ao valores e saberes.
A noção do Professor com “a faca e o queijo na mão” é primitiva e, no nível universitário, onde as críticas supostamente são mais fundamentadas é necessário uma certa coerência ao cortar-se o “queijo”, pois que a ostentação do título por parte de certos Professores muitas vezes não reflecte em actos e obras o rótulo com que se querem ver colados.
O grau de doutor comprova a realização de uma contribuição inovadora e original para o progresso do conhecimento, um alto nível cultural numa determinada área do conhecimento e a aptidão para realizar trabalho científico independente. (Artigo 37º da Lei de Bases do Sistema Educativo - Lei n.º 103/III/90 de 29 de Dezembro)
Muito mais do que o alarde sobre a sua intitulação, espera-se que, para além de reproduzir saberes, possa gerar novos conhecimentos, os quais poderão ser alvos de discussão com os seus Alunos e assim ter mais e melhores elementos de avaliação.
Ao Aluno poderia dar-se-lhe a possibilidade de avaliar o Professor (metodologia, bibliografia, programa, etc.). Mas neste caso poderíamos incorrer no mesmo erro: falta de elementos de avaliação por sistemática ausência de um dos actores que compõe uma sala de aula. O que não impede que o Aluno, fazendo uso do mesmo peso e mesma medida, transponha a anterior apreciação e faça a sua avaliação:
Pesado foste na balança e foste achado em falta. (Daniel 5:27)
daivarela
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